quarta-feira, 13 de abril de 2011

MENINOS E HOMENS

Crescimento é um fato indiscutível. Todos crescem, deixamos nossa "meninice" para tornarmos adultos. Meninos que viram homens. Penso que há uma pequena diferença entre virar homem e tornar-se. Na primeira opção vemos uma ação que acontece a fórceps, na força bruta, quer queiramos ou não. Já na segunda opção vemos um processo que respeita nossos tempos e momentos. Para nossos pais seremos sempre meninos, para nossos filhos nunca fomos meninos. Para os amigos de infância seremos homens com lembranças de um menino. Para nossos cônjuges, seremos sempre "homens", machos ou fêmeas, no entanto homens, adultos.
Essa questão da infantilidade e da maturidade é no mínimo intrigante. Mesmo quando somos homens não deixamos de "ser" meninos, pois trazemos em nossa bagagem uma criança que viveu nossas primeiras e melhores experiências. Mas não devemos esquecer de que homem não é só uma descrição de tempo. Ser homem é uma atitude e, seguindo por essa linha, vemos meninos agindo como homens e homens agindo como meninos. Assim sendo, haveria menino-menino, menino-homem, homem-menino e homem-homem.

homens e meninos
Ao defini-los, poderíamos temporizar nossos momentos, falo dos momentos porque não é possível engessar estações em nossas vidas. Um exemplo disso é quando alguém plenamente homem nos faz um pergunta em que nos sentimos ameaçados de alguma forma. Nossa resposta de aviso é ou porque sim, ou porque não. Se fosse apenas sim ou não, seria válida para qualquer interlocutor, mas o porquê é um agente de dúvida. Digo que é uma resposta de aviso porque nos revestimos do menino que habita em nós para emitirmos de uma forma "primária" um pedido de socorro. Mas será que isso é sinal de imaturidade ou de que não temos coragem de dizer que não somos totalmente felizes com nossas vidas ou conquistas? Tenho minhas dúvidas a respeito por possuirmos a propriedade de querer ser o melhor em tudo e principalmente para todos. Mas mesmo isso é coisa de menino, só que somente pensamos assim quando somos homens.
Então isso é falta de amadurecimento ou alguns de nós têm defasagem de tempo? É sabido que temos sonhos de infância que nunca se realizam.
É sabido também que existem pessoas que dizem que serão médicos ou cantores, ou artistas desde pequenos e tornam-se médicos, cantores e artistas. É sabido também que existem homens que até hoje não sabem o que querem e por isso querem tudo ou não querem saber de nada. Será que é possível identificar os muitos homens-meninos e meninos-homens em nosso mundo, nosso núcleo, nossa vida? Separar um homem de um menino é como identificar um herói enquanto ele é covarde.
É um comentário ambíguo, mas válido porque entre o herói e o covarde não há ninguém, somente o posicionar-se ou não. Porque tanto o herói quanto o covarde são homens que resolveram agir como homem ou como menino. Não que agir como menino seja ruim, mas quando somos adultos nos descaracteriza como seres responsáveis.
Todo homem é responsável por alguém ou alguma coisa, e por ele mesmo e por suas atitudes. Todo menino é isento de responsabilidade por alguém, ou alguma coisa, por ele mesmo ou por suas atitudes. Mas o que acontece entre o tempo em que deixamos de ser meninos para nos tornarmos homens, se é que nos tornamos, é um mistério. A esperança que nos resta é exatamente o equilíbrio entre homens e meninos, entendendo que meninos têm em seu universo desafios proporcionais ao seu emocional, portanto mesmo enquanto meninos podem sim agir como homens. Podemos agir como meninos enquanto homens, mas a continuidade desse fato complica muito nossa situação. A exemplo do herói e do covarde, do homem e do menino, não existe ninguém só bom ou ninguém só mau.
Podemos ser covardes em algumas situações, mas fomos feitos para ser heróis. Podemos ser meninos, mas quando nos dispomos a aprender tornamo-nos homens. Podemos ser maus, mas é melhor sermos bons em não sê-lo.  Não há heroísmo ao entrar de cabeça em uma situação e nem covardia em não fazê-lo. Mas o homem tem noção de suas responsabilidades e o menino as delega. O homem é livre para escolher, o menino depende da escolha de alguém. Mas se somos meninos ou homens, porque sim ou porque não é o suficiente para iniciarmos um relacionamento melhor, mais "bom" do que "mau", mais livre do que escravo, agradáveis como meninos e responsáveis como homens. São nossos desafios, seus e meus. Não podemos ignorar que somos sujeitos a todo tipo de paixão, portanto não há ninguém que de pé não possa cair ou caído que não possa se levantar. Em pé ou no chão o que nos diferencia são nossas escolhas. E isso é um mistério que envolve homens e meninos.

por Cássia de Figueiredo Freitas

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