sábado, 12 de fevereiro de 2011

SOBRENATURAL NÃO EXISTE!!!


Não sou naturalista, nos termos da física aristotélica, que insiste em tratar as coisas que aí estão como determinadas por leis autônomas, por uma previsibilidade matemática, por uma monotonia auto-determinada. Não creio em natureza, creio em criação. Creio em um Deus que age e opera constantemente no mundo, que decreta por sua palavra cada flor que se abre, o pássaro que cantou perto de minha janela, no beijo que minha esposa me deu, creio em um mundo que é fruto de um verbo constante e eterno. Creio na criação, não como um discurso dos homens, mas como fruto da palavra permanente do Criador:

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3)
Ao negar o natural, nego o sobrenatural. Um sobrenaturalista é um naturalista esporadicamente surpreendido. Quando creio em criação, tudo é fruto de um permanente milagre, tudo é milagroso. Para mim, o pão que chegou em minha mesa é tão milagroso quanto um paralítico que salta de sua cadeira, tudo é dádiva, tudo é digno de gratidão. Um teísta -- como eu -- é aquele que vive em um permanente estado de graça e surpresa, ele se surpreende apenas com o fato de existir, de respirar.

Me assombra ouvir a palavra “sobrenatural” em lábios cristãos, seu uso significa que alguém se dobrou ao secularismo, já não consegue ver o mundo de Deus como criação, mas como invenção, como um mundo animado, por forças matemáticas previsíveis. Ele mesmo se vê em um mundo sem graça, sem dádiva, por isto tem que atrair para seu mundo opaco, algo de fora, como os pagãos sempre fizeram. Por favor, espante-se com o salmista, cante com ele:

Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir. (Sl 33:9)

Para o naturalista, tudo é uma questão de previsibilidade matemática, de números que se encontram, de uma realidade aprisionada na lógica da causa e efeito, para um teísta, tudo é um grande espetáculo, uma dramatização constante, de um Deus amorosamente exibido, que se descortina por meio das coisas que foram criadas.

O naturalista desencantou o mundo por não suportar a exigência da fé, por não dar conta do permanente milagre, do permanente decreto divino, não suportou o verbo. O naturalista acusa o teísta de subjetivismo, por firmar sua fé em uma experiência privada, penso que mais que uma acusação, é uma objeção honesta. Entretanto, o que na verdade um teísta, um cristão, experimenta é uma mudança de perspectiva, uma atração à realidade. Mais que uma experiência subjetiva, quando capturado pelo amor de Deus, um cristão é atingido com uma mudança existencial.

Ele começa a ver o mundo para além do mundo. Tudo começa a ficar colorido, ele se nega a aceitar a proposta acinzentada da ciência, ele não consegue ignorar o amor, ele quer um sentido, não se conforma com o discurso de que sua vida se esgotará em um vazio tenebroso.

Como é difícil traduzir para os naturalistas que nossa fé é pensante, mas não somente pensante, pois não se dobra aos reducionismos. Nossa fé desvenda um mundo pulsante e cheio de vida, por isso, ao observarmos as flores e os pássaros, temos a quem dirigir nossas lisonjas, nossa fé exige humildade e gratidão, palavra que os naturalistas abominam.

Não creio no sobrenatural, pois para isto teria que admitir um mundo natural que não é sustentado por Deus, creio em criação, em mundo que aí está por uma constante ação de Deus. Por isto, Ele é digno de toda gratidão, louvor e permanente ações de graças.

Não resisto... tenho que citar G.K. Chesterton novamente:
Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. É possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: "Vamos de novo"; e todas as noites à lua: "Vamos de novo". Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode ser que ele tenha um eterno apetite de criança; pois nós pecamos e ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós. A repetição na natureza pode não ser mera recorrência; pode ser um BIS teatral. O céu talvez peça bis ao passarinho que botou um ovo. (Ortodoxia, p. 63)
                                                                                                                   Por Igor Miguel

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